A Apple dedicou o seu último evento de lançamento em 2020 para revelar um novo processador denominado M1. De acordo com a empresa, o novo chip promete colocar os dispositivos e computadores da Apple acima da concorrência em desempenho e economia de energia. Mas, ao que tudo indica esse “milagre” vem ao custo de reparos mais difíceis e de um considerável impacto ambiental.
O processador usa uma arquitetura semelhante à de smartphones, o design SoC (“System on a Chip”, ou “Sistema em um Chip”, em tradução livre). Isto significa que todos os principais componentes que farão o computador ‘pensar’ e responder mais rapidamente ficam soldados e unificados em apenas um chip.
O design rendeu críticas por parte de associações de defesa do consumidor nos Estados Unidos. Na prática, ele torna o reparo e o reaproveitamento das peças mais difícil, levando mais pessoas a descartarem seus computadores, acumulando resíduos (lixos) eletrônicos no meio ambiente.
A associação norte-americana, também chamada de Repair Association, trabalha para que a legislação norte-americana obrigue empresas de tecnologia a facilitar o reparo e a reutilização de produtos como computadores e smartphones sem que isso viole a garantia dos aparelhos. Ainda de acordo com a associação, facilitar o reparo de produtos eletrônicos também ajuda no processo de reciclagem, já que facilita a desmontagem das peças. Mas a iniciativa da Apple estaria na direção contrária deste movimento.
No M1, assim como os processadores de smartphones, todos os principais componentes que formam o “cérebro” do computador ficam juntos em um pequeno chip. Isso faz com que a máquina realize tarefas mais rapidamente e também economize energia, já que as peças conseguem comunicar-se mais facilmente.
Além da CPU (unidade de processamento de dados) e da GPU (unidade de processamento de gráficos), o M1 abriga no mesmo chip a memória RAM da máquina, responsável por armazenar informações de curto prazo e por garantir que várias tarefas sejam executadas ao mesmo tempo. Em computadores com Windows ou Linux (PC’S), ou mesmo os MacBooks vendidos pela Apple com processadores Intel, a memória RAM fica separada do processador. Isso prejudica um pouco o desempenho, mas facilita reparos caso haja algum defeito em uma das peças.
Quando os componentes ficam soldados num só chip, como é o caso do M1, é impossível remover ou trocar um só individualmente. É preciso substituir todo o conjunto em caso de problema em uma das peças, mesmo que as outras estejam em bom estado.
Por exemplo, se alguém levar seu MacBook ao reparo em uma assistência técnica não oficial da Apple, é provável que esse conjunto que precisou ser substituído vá para o lixo, já que não pode ser reaproveitado em outras máquinas.
A Apple defende-se de tais acusações dizendo que leva a sua responsabilidade com o meio ambiente muito a sério. A empresa afirma que é, atualmente, 100% neutra em emissão de carbono e tem o plano público de tornar toda a sua linha de produção de dispositivos igualmente neutra até 2030.
Nos Estados Unidos, a empresa tem um centro próprio de reaproveitamento com robôs preparados para desmontar os aparelhos e extrair os metais. Um deles é chamado de Daisy e, segundo a companhia, consegue extrair materiais de 15 modelos diferentes de iPhone em uma velocidade de 200 aparelhos por hora.
Essa neutralidade significa que a empresa compra e investe em fontes de energia renovável na mesma medida que consome energia de fontes não-renováveis, para que uma “compense” a outra. Além disso, a empresa diz usar uma liga de alumínio 100% reciclada na construção do MacBook Air, Mac mini, iPad e do Apple Watch. A Apple ainda se compromete a usar materiais reciclados em todos os seus produtos nos próximos anos, mas não estabelece um prazo para isso.
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