Humanos nascem com cérebros 'pré-programados' para ver palavras

HUMANOS NASCEM COM CÉREBROS PRÉ-PROGRAMADOS PARA VER PALAVRAS

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Os seres humanos possuem uma habilidade fantástica de, ao passar o olho pelo texto, instantaneamente reconhecer palavras por seu formato – mesmo que a escrita só tenha sido desenvolvida há cerca de 6 mil anos, muito tempo depois de o cérebro humano ter “evoluído” até sua forma atual. Por conta disso, os neurocientistas têm mantido um debate acalorado sobre se uma área do córtex cerebral, chamada de Área do Formato Visual da Palavra (VWFA, na sigla em inglês) é, de fato, um área específica e necessária para o reconhecimento de palavras. Escaneamentos com Ressonância Magnética Funcional (fMRI) mostraram que a área é ativada especificamente quando as pessoas leem, o que não acontece na hora de reconhecer outros objetos, como rostos ou casas.

Agora, um novo estudo sugere que os seres humanos nascem com uma parte do cérebro pré-programada para ser receptiva a ver palavras e letras, criando um cenário já desde o nascimento para que as pessoas aprenderem a ler.

Analisando varreduras cerebrais de recém-nascidos, pesquisadores da Universidade Estadual de Ohio, nos EUA, descobriram que esta parte do cérebro (VWFA) está conectada à rede de linguagem do cérebro.

Isso torna um terreno fértil para desenvolver uma sensibilidade às palavras visuais – mesmo antes de qualquer exposição à linguagem”, disse Zeynep Saygin, principal autora do estudo e professora assistente de psicologia na Universidade Estadual de Ohio.

O VWFA é especializado em leitura apenas para indivíduos alfabetizados. Alguns pesquisadores levantaram a hipótese de que o VWFA funcionaria como uma pré-leitura, igual a outras partes do córtex visual que são sensíveis ao ver rostos, cenas ou outros objetos, e só se tornaria realmente seletivo para palavras e letras conforme as crianças aprendessem a ler ou pelo menos à medida que aprendessem uma língua.

Descobrimos que não é verdade. Mesmo no nascimento, o VWFA está mais conectado funcionalmente à rede de linguagem do cérebro do que a outras áreas. É uma descoberta incrivelmente incrível”, disse Saygin, que também é membro do Programa de Lesões Cerebrais Crônicas de Ohio.

Os pesquisadores analisaram imagens de fMRI do cérebro de 40 recém-nascidos, todos com menos de uma semana de idade e os compararam a exames semelhantes de 40 adultos.

O VWFA está próximo a outra parte do córtex visual que processa rostos, e era razoável acreditar que não havia nenhuma diferença nessas partes do cérebro em recém-nascidos”, disse Saygin.

Como objetos visuais, os rostos têm algumas das mesmas propriedades das palavras, como a necessidade de alta resolução espacial para que os humanos os vejam corretamente. Mas os pesquisadores descobriram que, mesmo em recém-nascidos, o VWFA era diferente da parte do córtex visual que reconhece rostos, principalmente por causa de sua conexão funcional com a parte de processamento de linguagem do cérebro.

O VWFA é especializado em ver palavras antes mesmo de sermos expostos a elas”, disse Saygin.

Nosso estudo realmente enfatizou o fato de existirem conexões cerebrais já no nascimento para ajudar a desenvolver a especialização funcional, mesmo para uma categoria dependente de experiência como a leitura”, disse Jin Li, um aluno de graduação que participou do estudo.

O estudo encontrou algumas diferenças no VWFA em recém-nascidos e adultos.

Nossas descobertas sugerem que é provável que haja mais refinamento no VWFA conforme os bebês amadurecem. A experiência com a linguagem falada e escrita provavelmente fortalecerá as conexões com aspectos específicos do circuito linguístico e diferenciará ainda mais a função desta região (do cérebro) de suas vizinhas conforme uma pessoa se alfabetiza”,  disse Saygin.

O laboratório de Saygin no estado de Ohio está atualmente escaneando os cérebros de crianças de 3 e 4 anos para aprender mais sobre o que o VWFA faz antes que as crianças aprendam a ler e a quais propriedades visuais a região responde.

O objetivo é aprender como o cérebro se torna um cérebro de leitura”, disse ela.

Aprender mais sobre a variabilidade individual pode ajudar os pesquisadores a entender as diferenças no comportamento de leitura e pode ser útil no estudo da dislexia e outros transtornos do desenvolvimento.

Saber o que esta região está fazendo nesta idade nos dirá um pouco mais sobre como o cérebro humano pode desenvolver a habilidade de ler e o que pode dar errado. É importante monitorar como essa região do cérebro se torna cada vez mais especializada”, disse Saygin.

Seus resultados foram publicados na revista Scientific Reports, disponível neste link.

 

Meio Info / Science Daily

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